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Quem foi Lampião, o Rei do Cangaço?

A história de Virgulino Ferreira da Silva (o lampião), remonta a 1898, na cidade de Serra Talhada, Pernambuco. Nascido de uma família abastada, o nome Virgulino só ficou conhecido a partir de 1920, quando ele se tornou o maior cangaceiro do Brasil.

Cangaceiro é nome dado ao malfeitor fortemente armado que andava em bando pelos sertões do Nordeste, ao longo das três primeiras décadas do século XX. Já ouviu falar em Lampião e Maria Bonita? Vamos conhecer um pouco dessa história de amor macabra e como surgiu o Rei do Cangaço.

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A história de Lampião

Lampião cresceu no seio de uma família rica em Pernambuco. Na cidade de Serra Talhada começou a história desse cangaceiro que virou Pernambuco do avesso, espalhando o terror por onde seu bando passava.

Por motivos de disputa de terra, o pai de Virgulino havia sido assassinado e o filho, se tornou um fora da Lei em 1920. Um grupo de cangaceiros, adeptos aos seus ideais, acolheram então um Virgulino sedento por vingança.

Em pouco tempo, ele se torna Lampião – o líder do grupo de cangaceiros que marcou a história das cidades nordestinas. A história de Lampião é rodeada de controvérsias. Enquanto alguns dizem que seu apelido se deve ao fato de ele manejar o rifle com tanta rapidez e destreza que os tiros sucessivos iluminavam a noite, outros acreditam na versão atribuída a Sinhô Pereira, segundo a qual Virgulino teria usado o clarão de um disparo para encontrar um cigarro que um colega havia deixado cair no chão.

Em 1930, Lampião e seu exercito de cangaceiros, já haviam disputado várias terras da região. Com muitas derrotas e vitórias em sua lista, o bando de Lampião passou a ser um dos mais procurados por conta de sua periculosidade.

Requintes de crueldade

Embora alguns acreditem que Lampião foi um herói dos sertões em busca de justiça para as terras latifundiárias, há controvérsias sobre a questão por conta dos rituais macabros de morte que Lampião e sua trupe estavam envolvidos.

Com um punhal de até 80 centímetros, lampião e seu bando mutilavam quem quer que entrasse em seu caminho com um golpe certeiro na base da clavícula da vítima. Os locais do assassinato, além de serem palcos banhados de sangue, eram utilizados para ferir, mutilar e deixar cicatrizes visíveis, para servir de exemplo a qualquer um que se opusesse ao cangaço.

Existem relatos que mostram a crueldade de Lampião, quando ele desenhava feridas profundas em suas vítimas – para homens um sinal de cruz na testa e nas mulheres, marcação a ferro quente no rosto, utilizando o instrumento de marcar gado.

As populações de regiões pobres do sertão enxergavam Lampião como um Robin Hood do cangaço, enquanto os fazendeiros e o Estado viam-no como a figura que ele realmente era: um saqueador perigoso e cruel que deixou um rastro de sangue por onde passou.

História de amor Lampião e Maria Bonita

O Rei do Cangaço enfim se rendeu ao amor. Maria Bonita, uma sertaneja de Pernambuco, era divorciada de seu primeiro marido José Miguel da Silva e foi a primeira mulher a entrar no cangaço.

Maria Gomes de Oliveira, a Maria Déa, amoleceu aos poucos o coração de pedra de Lampião e em pouco tempo se tornou Maria Bonita, acompanhando o amante em toda a sua peregrinação pela caatinga.

O primeiro encontro de Virgulino com Maria Déa aconteceu na casa dos pais dela no ano de 1929. Malhada Caiçara (BA) foi o berço do amor entre Lampião e Maria Bonita, que era sobrinha de um protetor de Lampião.

No ano de 1930, um ano após se conhecerem, a moça largou a família e aderiu ao cangaço, para viver ao lado do homem que amava. Nunca antes na história do cangaço uma mulher havia sido permitida no meio dos bandoleiros. Mas Maria Déa foi um exemplo de que as coisas funcionariam bem, mesmo com uma mulher entre eles.

As mulheres do bando não realizavam tarefas domesticas. Todo o trabalho de limpar, lavar e cozinhar era tarefa reservada aos homens. O papel das mulheres cangaceiras era de fazer companhia aos maridos e satisfaze-los.

Elas também não iam à guerra, com exceção de Dadá, mulher do cangaceiro Corisco, que depois se tornou líder dos cangaceiros. Após a chegada de Maria Bonita, Lampião ficou cada vez menos envolvido com o cangaço, optando por repousar mais e viver uma vida menos nômade. A chegada da filha do casal, Expedita Ferreira, mudou mais ainda a vida do casal.

E foi em um desses repousos que terminou a trajetória de Lampião e Maria Bonita, culminando com a morte e decapitação de ambos em praça pública.

Morte de Lampião

Na segunda metade da década de 1930, Getúlio Vargas impôs uma verdadeira caçada à Virgulino e seu bando.

Em 1938, Lampião, muito provavelmente traído por alguém de confiança, foi encontrado em um dos retiros que ele encarava como o mais seguro, e seu bando foi emboscado de madrugada. Naquela noite, onze cangaceiros morreram no ataque e vinte e três fugiram desolados pela morte do líder que foi um dos primeiros a morrer.

A Grota do Angico, sertão Sergipano, foi palco do assassinato de Maria Bonita e Lampião. Após uma batalha contra as tropas do tenente José Bezerra, o Rei do Cangaço foi surpreendido e morto, junto com a mulher Maria Bonita.

No caso de Maria Bonita, a cangaceira foi degolada viva, com requintes de crueldade por parte dos policiais. As cabeças dos cangaceiros do bando de Lampião foram expostas em praças públicas nas cidades do sertão nordestino, para servir de exemplo do destino daqueles que seguiam a vida do cangaço.

Os crânios do bando de cangaceiros foram levados para institutos de criminologia para serem estudados, onde passaram por apurados exames médicos, tiraram suas medidas e foram pesados a fim de encontrarem seus padrões criminosos.

Após viajarem até o Sul do Brasil expondo os restos mortais dos cangaceiros, o Estado os enviou para a Universidade Federal da Bahia, onde foram examinados novamente e depois colocados em exposição no Museu Antropológico Estácio de Lima, onde permaneceram por três décadas.

Luta por um enterro digno

Por muitos anos, os familiares dos cangaceiros lutaram pelo direito de conceder um enterro digno à Lampião e seu bando. Em 1965, após uma grande pressão pública, as cabeças de Lampião, Maria Bonita e outros membros do cangaço foram enterradas, colocando um ponto final na história de Virgulino.

Mas, com tantas controvérsias em torno dessa história macabra, como diria Gilberto Gil em sua música, “tantos cangaceiros/ Como Lampião/ Por mais que se matem/ Sempre voltarão”.