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O Quinze

O Quinze é uma obra de grande destaque publicada no ano de 1930 pela escritora Rachel de Queiroz, escritora essa modernista, que retratou em suas paginas a grande seca de 1915 que tomou grandes proporções no então nordeste brasileiro, a obra representa principalmente a realidade da própria escritora, que se mudou para o Rio de Janeiro com o intuito de fugir da seca do nordeste.

Raquel foi e continua sendo uma grande escritora viveu admiráveis 92 anos de idade escrevendo diversas obras de cunho bastante realista, é conhecida como a primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras, e não podemos deixar de mencionar o grande Premio de Camões em 1993. A escritora pertenceu ao movimento modernista, mais conhecido como regionalista, suas obras retratam a seca do nordeste, a miséria, a opressão e o sofrimento dos mais pobres.

O Quinze

ESTRUTURA DA OBRA

A obra o quinze é o maior romance modernista já escrito pela escritora, composto por 26 capítulos, sem títulos, apenas enumerados.

O livro releva a temática modernista regionalista em um âmbito romântico que descentraliza da temática social, Raquel revela suas emoções, sem apontar que são culpados ou inocentes.

Tempo: O romance é passado no Ceara no ano de 1915, ano esse em que a seca tomava grandes proporções no nordeste, esse cenário obrigou milhares de pessoas a migrarem para outros locais, como Amazonas e São Paulo, o objetivo principal era a possibilidade de uma melhora de vida, a obra não mostra avanços ou recuos dessas famílias, toda narrativa é narrada em linha reta, dando centralidade ao presente, e o cotidiano das famílias que vivenciavam aquela realidade. A passagem do tempo é retratada de uma forma bem tradicional, com inicio, meio e fim, o passado apenas é mencionado por conceição, bem raramente.

Cenário: A obra em seu contexto é passada no grande Ceará, na região de Quixadá, nessa localidade a obra nos revela a Fazenda de Dona Inácia, personagem avó de Conceição, e a fazenda do Capitão, que é pai de Vicente, e não podemos deixar de mencionar a propriedade de Dona Maroca, patroa de Chico Bento

O livro além de retratar o ceara, em poucas partes menciona o cenário urbano, destacando a capital, Fortaleza, região essa que mora conceição e grande parte dos retirantes que migram para essa localidade.

Linguagem: O livro teve grande notoriedade por conta da sua linguagem simples, pelo fato da grande maioria dos livros literários apresentarem uma linguagem mais complexa de ser lida e entendida.  A obra foge do chamado exibicionismo de palavras mais formalizadas, é uma linguagem mais espontânea e tranqüila de ser entendida, própria da linguagem moderna brasileira, ou seja, uma linguagem bem regionalista.

Narração: O quinze é narrado em terceira pessoa, a narradora é a própria autora da obra, tornando-se um narrador onisciente, características essa de algumas obras literárias. Nessa narrativa o narrador conhece profundamente todos os personagens, sabe de todas as características, anseios, desejos e principalmente os pensamentos.

É utilizado um discurso livre e indireto, o narrador une os personagens, isso pode ser reconhecido em alguns diálogos da narrativa.

PERSONAGENS PRINCIPAIS

Conceição: Na narrativa é uma professora jovem de 22 anos de idade, solteira, e com forte gênio. É uma personagem forte de espírito, culta, e com ideias além do seu tempo, principalmente no teor feminino, suas principais leituras são sobre socialismo e feminismo. Seu único amor foi o primo Vicente, por qual despertou grande interesse, ao passar do tempo percebeu que o homem não era bem aquilo que imaginava, destruindo toda possibilidade de romance, e considerou que tinha grande vocação para ser solteirona.

Vicente: Vicente, como mencionado, é primo de Conceição, considerado um homem trabalhador e sertanejo, com personalidade um pouco rude. Advêm de uma família de boas condições e sempre sonhou em ser vaqueiro, sonho esse visto com maus olhos pela família, que com o tempo foram aceitando a idéia. É uma pessoa humana, que sempre busca tratar bem os empregados e a família, também teve grande admiração por conceição, mas com o tempo a mesma foi se tornando fria e distante, desacreditando assim do amor.

Chico Bento: Também vaqueiro, diferentemente de Vicente é de origem pobre, os seus cuidados é centralizado no rebanho dos outros, ambos são bem amigos e vizinhos, com a seca chegando, Chico perde seu trabalho e se vê obrigado a migrar com sua mulher Cordulina e seus cinco filhos para outra cidade, se tornando retirante, tornando-se uma viagem desastrosa e cheia de perdas em busca de uma vida melhor

Cordulina: Na narrativa é a mulher de Chico Bento, é uma mulher r submissa, com pouca ou nenhuma leitura, carregada de sofrimentos e tristezas, fadada a viver ao lado do marido, na miséria, em busca de um destino melhor.

Dona Inácia: Avó de conceição é considerada uma espécie de mãe, pois a mãe de conceição morreu cedo. É a personagem dona da fazenda chamada de Logradouro, é contra o comportamento da neta, principalmente na idéia de permanecer “solteirona”

RESUMO DA OBRA

O enredo pode ser considerado dramático, que retrata característica do interior do ceara durante os períodos mais duros já vivenciados pelas pessoas, a seca em 1915, ano esse de maiores proporções. A obra mostra a realidade crua pela busca por melhores condições de vida.

A narrativa começa mostrando a realidade de Chico Bento e de sua família, um homem que trabalha como vaqueiro e se vê obrigado a deixar sua terra por conta da grande seca que assolava a região. Diante de tal situação, tomam a decisão de migrar para a capital de Ceará, Fortaleza.

Com essa realidade brutal da narrativa, Chico e sua família sem meios de transporte para conseguir chegar ao destino, se vêem indo a pé para a capital, enfrentando acontecimentos bem dolorosos pelo caminho, como a perca de alguns dos seus 5 filhos, sem deixar de mencionar a grande fome e sede que passaram por todo caminho.

A morte do primeiro filho ocorre pelo fato de Chico durante o caminho ter matado uma cabra, essa cabra tinha um dono, e mesmo explicando toda sua historia de vida sofrida, o homem não teve pena, deixou apenas os restos do animal para matar a fome de todos.

Diante de tanta injustiça e crueldade, uns dos filhos de Chico, para saciar a fome de dias, come um pedaço de mandioca crua pelo caminho, a mandioca estava envenenada, causando assim sua terrível morte e total sofrimento para todos.

Há um trecho da obra em que o leitor se depara com uma narrativa forte, como essa:

“Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada a fora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma cruz.”

Não bastando à morte de Josias, outro filho do casal desaparece com um bando de retirantes, o casal nunca mais teve noticiais do então filho.

Finalmente chegando à capital do ceara, enfrentam mais uma dificuldade, são mandados para um campo de concentração destinado aqueles condenados a seca.

Diante de tanta tragédia e desilusão, encontram uma alma caridosa, chamada Conceição, a mesma é voluntaria e professora, tornando-se depois de algum tempo madrinha do filho caçula, chamado de duquinha.

Conceição os ajudou no que estava ao seu alcance, ajudou a comprar as passagens para São Paulo, com o tempo que passou com a família tomou grande amor por duquinha, e fez o pedido de ficar com ele, alegando que com ela o mesmo viveria melhor, o casal pensou muito, e o filho acabou permanecendo com sua então madrinha.

Conceição, uma mulher bondosa e com grande coração, determinada e com grandes pensamentos a frente da sua época, era apaixonada pelo seu então primo Vicente, mas infelizmente o rapaz acabou conhecendo outra mulher no decorrer da narrativa, Marilinha Garcia, que também estava totalmente apaixonada pelo personagem.

A chuva chegou, dando tempos e ares melhores para todo povo nordestino, a avó de conceição resolve se mudar para sua terra natal, Logradouro, Conceição acaba ficando em fortaleza.

ANALISE DA OBRA (O quinze)

O romance transparece uma narrativa de teor regionalista, a obra basicamente não ocupa seu espaço trazendo soluções palpáveis e imediatas para cada problema, mas sim aponta os males da seca na região e suas conseqüências, isso se dá através da observação narrativa.

Na obra, O Quinze, a autora se preocupa em levar as questões sociais juntamente com a analise psicológica e comportamental de cada personagem, dando enfoque ao homem nordestino, um homem que não enxerga ou até mesmo não aceita o destino fatalista. A seca é a grande centralidade de toda obra, e também do coronelismo e impulsos passionais, a obra revela a relação harmoniosa entre o psicológico e o social.

A escritora representa a seca do nordeste e a fome como conseqüência da realidade, objetivando como uma imagem de vida.

Na obra é possível perceber que Rachel não quis retratar uma separação de classes, ou seja, entre os ricos os pobres, isso é demonstrado nos personagens de Conceição e Vicente, que vivencia os dois mundos, é evitado um romance que divide os chamados “bons pobres” e” maus ricos”, esquivando de achar um inocente ou culpado.

 FILME

A obra também teve sua adaptação em filme, filme esse dirigido por Jurandir de Oliveira, em 2004.

 

Veja também: Poesia Social